domingo, fevereiro 28, 2010

Estava lá ela sentada no lugar combinado , um lugarzinho pacato coberto por palhas , onde caía uma gota aqui e outra ali de chuva, o suficiente para que o lugar tivesse um aroma agradável , olhou para o céu e viu que o azul escuro noturno , terminava de abocanhar o azul claro característico do dia. Olhou para os lados , e não teve dificuldade de perceber que aquele lugar era ausente dos compostos de uma cidade grande , batia os dedos no balcão de acordo com o ritmo da musica que vinha do alto de uma casa , próxima dali . Do outro lado lado do balcão , Vilma perguntou se queria beber algo , absorta em seus pensamentos , fitou a moça e fez que não com a cabeça , tinha o rosto passivamente angustiado . Se não fosse pelo corte em seus lábios que jorrava litros de sangue , Vilma teria lhe perguntado se "estava tudo bem" . Mantinha o rosto aparentemente clamo , mas por dentro seu estomago se retorcia , tinha medo que Sophia não fosse ao seu encontro . Pensava longe demais para que pudesse sentir a dor dos lábios cortados e se espantou quando lhe tocaram os ombros . Se olharam por um segundo profundo demais , para que Sophia entendesse o que se passava .
- Demorei querida ?
Sophia estava convicta de que ouviria um Sim , mas Laila respondeu um falso não com a cabeça .
De dentro de uma bolsa lilás , ornamentada com símbolos OM , Sophia tirou uma carteira de Lucky Strike de filtro vermelho , esse tinha sabor amadeirado , acendeu o embrulho de nicotina mais monóxido de carbono e soltou algumas baforadas densas no ar , ofereceu-lhe um cigarro, e Laila o repudiou . Então o pôs no descanso .
Sophia cruzou a pernas e chamou Vilma , com uma voz um tanto rouca :
-Sim ?
- Um Wisque , por favor !
- Enquanto a Senhora ?
Referindo - se a Laila, sem ao menos tirar os olhos do caderno de anotações . Sophia se adiantou :
-Ela vai querer um Tannat , uma caneta e um papel .
Laila ficou encantada no modo que Sophia pediu as bebidas , tinha postura e elegância ao pronunciar os nomes , jurava nunca ter escutado o nome da bebida que lhe foi pedida , mas teve a descencia de ratificar seu pedido , ao contrario de Sophia que parecia entender muito bem sobre alcool e qualquer outro tipo de coisa que lhe perguntasse .
Vilma lhes trouxe as bebidas em cálices enormes :
-Hummmmm , magnífico ! Sophia passou a línguas nos lábios fitando a taça estridente daquele líquido , olhou para Laila que ainda fitava sua taça intocável .
- Vamos lá Laila , beba !
Laila lhe lançou um olhar e deu um gole significativo no vinho tinto de coloração viva e intensa, vermelho rubi com tons violáceos que fundiu-se ao seu sangue . Tinha aroma de cacau, pimenta , baunilha e manteiga , era ácido e adstringente , mas de paladar um tanto agradável . Manchou o canto da boca , e então Sophia soltou uma gargalhada que pairou instantes pelo ar .
Laila tinha nojo, repudio, raiva daquela voz e de qualquer outra que lhe aparecesse , queria sufocar Sophia , na verdade todos os seus sentidos estavam contidos em um litro de inveja , pediu a Deus dois dedos de paciência para que não agarrasse o pescoço de Sophia e lhe arrancasse as cordas vocais . Sabia que tinha força suficiente para isso, mais coragem , não .
Laila preferia morrer , a não ter sua voz . Sophia começou um assunto sobre espelhos , pondo o papel e a caneta mais próximos de Laila , que tratou de familiarizar-se com as ferramentas, mas não tanto quanto se familiarizava com as palavras .
Permaneceram assim durante toda a noite , com intevalos para uma taça de vinho aqui e outra ali , diziam que dava mais ênfase aos assuntos . Vilma adormeceu com o ar confuso, vendo aqule monólogo, pois mais parecia que Sophia dialogava com seu botões . Laila quis voltar aquele lugar em que os azuis se engoliam todos os dias , mas com um único desejo : Que tivesse de volta a sua voz .

segunda-feira, fevereiro 22, 2010



Lembro-me da tarde em que tu morrias em meus braços , era arcadicamente lindo o modo como eu te tomava e te afagava os cabelos alourados . Era tão fascinante como você queimava ardentemente numa dantesca febre , e eu deslizava sobre sua fonte um pano umidecido , querendo acalentar o fogo que te consumia . Te embalava com um leve sorriso cínico , e no vai e vem da rede o vapor do teu sangue fervoroso me arrebatava , quase me impedindo de te tocar . Ninguém mais suportava o calor do teu corpo, nem mesmo o teu próprio suor , parece que se calefava . Ninguém além de mim , a única que portava uma certa imunidade a tamanha ardência . Te beijava fervorosamente na ânsia em que teu corpo carbonizasse . Meu beijos pareciam exercer a função do isolante térmico : ÁGUA , era assim que eles se comportavam diante das suas chamas , além de acelerar a tarefa das tuas glândulas sudoríparas . Os teus sentidos se esvaíram em água , até que a temperatura se reestabelecesse , era como se você tivesse sobrevivido ao maior incêndio já acontecido . Mas o nosso amor não , indiferentemente de você o amor não é como a Fénix que renasce das chamas .



( Andressa Vieira _ memórias de um esquecimento )

sábado, fevereiro 20, 2010

Eu encontrava amigos com os sentidos e algo bem mais alterado , falavam de umas coisas bobas , e compartilhavam um vidrinho que deixava o nariz vermelho , eu achava bonito aquilo e ria de como se comportavam , mais não arriscava entrar na dança, talvez não soubesse o embalo . Alguns elitizados se etilizavam só aí eles se igualavam a massa . Uns cantavam um tal de "vou te comer ", outros arriscavam um rebolation , e eu ? Ah eu embalava , era carnaval meu caro , vesti minha fantasia e coloquei minha máscara apartir daí já não era eu , esqueci de tudo o que compõe Andressa Shuellen, eu era agora uma foliã como todos os outros , quis experimentar diversos copos de bebidas fortes , quentes , cheirar algo , falar coisas bobas também , sorrir de uma coisa sem graça , mais eu temia . Eu estava lucidamente feliz , e ria de tudo sem ter que usar nada, apenas algumas gotas de chuva me bastaram . Me alcoolizava com o cheiro de terra molhada , com o vento que batia em mim e com alegria de cada folião . Mas simplesmente acabou , é fato todo carnaval tem seu fim , acabou-se o estado em que eu usava mascaras pra me esconder dos meus fracassos, fugir dos meu problemas , e fingir que tudo estava indo bem, tudo muito bem !
Aquele sorriso bobo foi-se esvaindo no meio de tanta música , de tanta gente bonita
misturada com umas desprovidas de tal beleza . A felicidade misturou-se com a fumaça de cigarros , o cheiro dos alucinógenos , e um copo aqui e outro ali de uma bebida alcoólica .
E a chuva daquele carnaval se encarregou de levar todos os disfarces . Lavou a alma de uns , e os amores carnavalescos de outros , lavou a tinta que se usava nos rostos , a maquiagem bem feita , lavou e levou-as de lembrança .
Agora eu estou aqui , nada mais do que uma columbina fora época .
Se é que existe Columbina sem Pierrot .


Andressa Vieira _ concordando que todo carnaval tem seu fim .

sábado, fevereiro 13, 2010

Enquanto a você seu moço ,
com a arte das palavras domar .
Trate de não mais me prender ao
brilho já meio apagaddo e sofrido desse teu olhar .
Juro , não querer mais fantasiar .
Não sei se é você ou o Destino :
- Qual dos dois querem brincar ?




Andressa Vieira !

sábado, fevereiro 06, 2010




Um lado de mim é luz , o outro é apagão .

Um lado de mim é só , o outro é multidão .
Um lado de mim é puro , o outro é pagão .
Um lado de mim cala , o outro é respondão .
Um lado de mim é ativo , o outro é torpor .
Um lado de mim é alegre e o outro sente dor .
Um lado de mim escuta e o outro quer falar .
Um lado de mim silencia e o outro quer gritar .
Um lado de mim é Sol , o outro é Lua .
Um lado de mim vestido e a outra parte nua .
Um lado de mim é inverno e o outro é verão .
Um lado de mim é belo e a outra parte não .
Um lado de mim é ímpar e o outro é par .
Metade de mim é poesia e a outra metade é mar .



( Andressa Vieira )


Uma moça
De lá do outro lado da poça
Numa aparição transatlântica
Me encheu de elegante alegria.


( Reutilizada por Ariadne Chaves )